Jamor

UMA EQUIPA DE RESISTENTES NO JAMOR

UMA EQUIPA DE RESISTENTES NO JAMOR

“Olha esses pés!”. A voz rouca de João Vilaça marca o ritmo e as indicações técnicas fogem do alcance dos menos versados sobre um desporto que associamos apenas à força braçal. São detalhes trabalhados no Clube Millennium BCP de canoagem, que reúne um grupo de 15 a 20 jovens e crianças em ritmo pré-competitivo, com três treinos semanais na Pista de Atividades Náuticas do Centro Desportivo Nacional do Jamor.

Para a maioria, atingir o estatuto de atleta de alta competição é o objetivo. “Fernando Pimenta é o meu ídolo, gostava de ganhar tanto quanto ele tem ganhado”, diz Guilherme, 17 anos, um dos mais velhos da equipa. Yann, dois anos mais novo mas mais experiente, tem outra referência: José Ramalho, vice-campeão nos recentes mundiais de maratonas. “É a variante que quero seguir”, afirma, orgulhoso de já ter privado com as grandes referências da modalidade durante os campeonatos nacionais. “Eu não quero ser profissional, mas gosto desde desporto. O que interessa é que me sinto bem. A canoagem faz-me feliz”, contrapõe Tomás, de 14 anos, um dos extrovertidos da equipa.

“É uma modalidade que exige resiliência e isso vê-se a partir do inverno. No momento das inscrições surgem muitas dezenas, mas quando começa o mau tempo acontecem as desistências. É como as tartarugas, só poucas resistem”, explica o responsável máximo do clube e treinador, sorrindo.

João Vilaça vai mais longe: “Falta cultura desportiva em Portugal. Como a maior parte dos treinos é feita à noite e este é um desporto ao ar livre, os pais começam logo a perguntar se o treino é cancelado se estiver a chover. Obviamente digo que o treino se mantém. Temos sucesso nos estrangeiros porque eles têm uma mentalidade diferente.”

Quem “resiste ao inverno aguenta a época toda”. Ruben, 12 anos, é um dos não desistentes. Natural da Cidade do Cabo, na África do Sul, quer “viver para sempre em Portugal”. Recorda o mar agitado da terra natal que tanto inspirou a literatura dos Descobrimentos, o mesmo onde o pai praticou canoagem, a inspiração de uma criança que ainda só fala inglês mas comunica com os colegas na linguagem universal do desporto.

 

 “Este é um espaço ótimo para os miúdos de pré-competição. Muitos saem daqui para outro patamar. O perímetro da Pista de Atividades Náuticas é de 750 metros e temos uma reta de 300 metros, ideal para treinar as técnicas iniciais”, explica Vilaça.

Beatriz, de 11 anos, é a mais nova do grupo e tem apenas alguns dias de treino. Mas as dificuldades de iniciação não a demovem. Corre a um ritmo inferior dos mais velhos nas duas voltas de corrida de aquecimento mas está pronta para descer à zona de embarque; vira-se uma e outra vez na canoa mas equilibra-se de novo e rema com toda a convicção. A superação é o espírito desta modalidade, cuja época desportiva decorre no ano civil, entre janeiro e dezembro.

 

O Clube Millennium BCP também recebe quem quiser experimentar a canoagem ao abrigo do projeto Desporto para Todos do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). “Temos sempre equipamento. Até mesmo uma pessoa de 40 ou 50 anos pode vir, desde que tenhamos um caiaque adequado”, descreve João Vilaça, lembrando as alterações necessárias a fazer quando se trata de pessoas com necessidades especiais: “Quando assim sucede, colocamos um monitor apenas com essa pessoa e não pode, obviamente, acompanhar um grupo de quatro ou cinco pessoas. É tudo uma questão de organizar as coisas.”

O clube tem mais dois polos, um no Seixal e outro na marina de Oeiras, onde são administrados cursos de canoagem de mar e surf ski e em que se preparam as competições para os mais velhos e experientes a solo ou em equipas de K2 ou K4. E também onde os agregados tendem a ser mais heterogéneos. “Temos uma senhora americana de 70 anos connosco neste momento. Nunca falha um treino.”

 

 

16-11-2022